sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

[literatura] Gerras invisíveis, conflitos subentendidos & batalhas hipotéticas


{Advertência: as estórias de frost, o cronista do improvável, não são relatos de um jogo ou personagens de RPG: é uma ideia maluca que me assombra há bons 10 anos e que resolvi exorcizar só agora (sou lerdo com as coisas). Então é "literatura", em sentido lato, sem influência de rolagens ou ideias de outros jogadores. Ou seja, enquanto as outras personagens funcionam como ponto de vista onde eu traduzo as ocorrências do jogo, aqui Frost é uma personagem que pertence a si própria, não depende da sorte dos dados rolados em minha mesa e tem sua história fechadinha e predefinida, independente de intervenções alheias. Como toda estória interessante.}

Livro 01 - Frost livre

Prelúdio

Como traduzir em palavras algo que não sei articular direito? Como fazer compreender as delícias e desgraças da minha história, se no caminho topei com tantas coisas que desafiam a compreensão que a simples memória de tais eventos altera minha neuroquímica a ponto de eu ter que sentar para que o mundo pare de girar?

É bom começar do começo, suponho.

"-Tudo começou com uma partida de RPG..."

Era uma noite de quarta-feira. Noite do bom e velho G.U.R.P.S.. O mestre da vez era o Rodrigo. Jogávamos algo que Rodrigo classificava como "cyberpunk-devagar-favelado": uma campanha em níveis tecnológicos elevados, num futuro próximo, porém menos tecnológico que o esperado para o futuro próximo. 

Nesse cenário, éramos os heróis da favelinha, correndo nas sombras contra o mundo capitalista, fazendo ecoterrorismo e, de quebra, adiantando a agenda de algum grupo neossocialista da rede, algo assim. É, eu sei: o Rodrigo é um tremendo sequelado pra viajar nessas coisas. acho que a graça do jogo taí, nessa associação inusitada das coisas.

Em última análise, acho que meu costume em lidar com o esquisito vem desde cedo, com o grupo do Rodrigo, e foi o que me permitiu manter a cabeça no lugar ao conviver com a galerinha que vive no próximo mundo depois do espelho. Uma turminha “ixpérta” que faz a rainha da Alice parecer uma tia da escola, de tão careta.

Mas, divago - pra variar só um pouquinho. Por certo, pela perda de sangue.

Então, favela, rock'n'roll, porradaria e extração de algum figurão científico do conforto de sua velha-empresa-gaiola para o conforto da nova-empresa-jaula. Parece a mesma coisa, mas um olho treinado sabe a diferença: gaiolas são para passarinhos, ao passo que jaulas abrigam animais maiores e mais perigosos... leões.

Então, meu personagem era o porradeiro do grupo, um misto de “artista marcial zen” com “santo da espada”, só que por espada entenda 3 metralhadoras .50 superpesadas e por zen entenda pavio curto mesmo. Meu boneco era um cara chatinho de se opor em combate, especialmente porque eu consegui desencavar uma regra cinematográfica de um suplemento raro que me permitia atirar com as duas mãos ao mesmo tempo, mirando em dois alvos diferentes, enquanto fazia malabares com as 3 armas. 

Estranho? Certamente. Apelão? De doer; mas inválida? Não senhor.

Basicamente, com um teste de “sacar rápido”, meu personagem conseguia mandar a primeira arma pro ar, enquanto que com um teste secundário eu sacava as outras duas, atirava ao mesmo tempo, no mesmo turno, e no final jogava a metranca da mão direita pra cima e a da mão esquerda pra direita, enquanto pegava com a mão esquerda a arma que lancei no início, caída perfeitamente na altura da minha mão esquerda.

Antes de ser acusado de combismo, digo que gastei, 250 pontos em perícias, 138 em vantagens, 9 em perks e R$ 16 em stellinhas artois pra convencer o mestre a permitir a sequência. E há quem diga que RPG não é um jogo social...
[continua...]

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